História Social da Industrialização Brasileira

INTRODUÇÃO
A indústria e certas atividades correlatas não nos causam nenhuma estranheza. Sua presença física marca visivelmente a paisagem e seus produtos fazem parte do dia-a-dia de milhões de pessoas. Mas nem sempre as coisas foram assim. A industrialização brasileira tornou-se possível graças à existência de condições históricas muito precisas, cujo conhecimento é necessário para a compreensão de seu desenvolvimento, contradições e carcterísticas. No Brasil colonial a economia gravitava em torno da produção de açúcar e do comércio de escravos. Naquela época, grande parte dos artigos que chegavam à colônia eram vendidos pelos comerciantes lusitanos, que obviamente não tinham nenhum interesse no desenvolvimento de manufaturas. Da mesma forma, a elite colonial, ligada que estava ao comércio do açúcar, pouca importância dava á atividade industrial. Após a Independência esse quadro pouco se alterou. Foi apenas o fim do tráfico de escravos, em 1850, e o desenvolvimento da cafeicultura, acentuadamente na Primeira República (1889-1930), que favoreceram ligeiramente a indústria nacional. Ainda assim, mesmo durante a Primeira República, os estímulos à indústrialização eram indiretos. A Revolução de 30, um dos episódios mais importantes da história do Brasil, alterou significativamente essa situação, uma vez que elevou ao poder um novo conjunto de forças, cujo interesse dominante era exatamente a industrialização. Desde então e até bem recentemente, a industrialização se tornou uma prioridade nas políticas de Estado. Os números sobre o crescimento industrial confirmam o empenho do Estado e de alguns segmentos da sociedade na industrialização brasileira, notadamente entre os meados dos anos 30 e o início dos anos 70. Essa evolução porém, não ocorreu de modo tão simples e linear. Vários conflitos, com antigos interesses, e novas contradições, decorrentes da própria industrialização, atravessaram este longo percurso. Os problemas, as vicissitudes e as políticas que deram lugar ao crescimento industrial constituem um processo histórico, que ainda não terminou, mas está em condições de receber uma análise crítica, igualmente capaz de avaliar as perspectivas atuais. É o que pretendemos apresentar neste livro.