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Sertão D´Água

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Prefácio
Encanta-me o mistério e a magia da palavra sertão, lugar ermo, agreste, distante das povoações ou das terras cultivadas. Neste sentido, a palavra indica vastas regiões no Brasil, no Nordeste, no Centro-Oeste, na Amazônia. Há uma cultura e uma civilização próprias desses lugares de tão escassa presença humana. O criatório no Nordeste e Centro-Oeste. As drogas na Amazônia do extrativismo. Sertão, palavra de etimologia obscura, advertem os
vocabulários do vernáculo. Adelino Brandão lembra o grande deserto ou desertão, decompondo: de-sertão... sertão... Explica que quem descobrira a etimologia do vocábulo só podia ser alguém que tivesse vivido a experiência do deserto; ou do mar, porque somente neles é que a sensação do infinito e da impotência humana diante da natureza e da solidão se manifesta de modo tão angustiante (Paraíso Perdido, Euclides da Cunha/Vida e Obra, 1997, p. 104). O sertão é múltiplo, plural. Pois é. Euclides da Cunha, com sua visão jornalística, percebeu esse múltiplo: Os Sertões. A Terra, o Homem. O sertanejo antes de tudo um forte. Mas o múltiplo em Euclides é “um só”, o sertão do recôncavo baiano, com suas paisagens de caatingas e pedras. Lá no arraial de Bom Jesus ficou plantada a saga de Antônio Conselheiro e do povo de Canudos, para a qual o escritor chamou a atenção do mundo com sua obra imortal. A guerra aos “jagunços”, os habitantes daqueles sertões, guiados pelo carisma de Antônio Conselheiro, o sertanejo rebelde que ousou desafiar o regime, foi o grande equívoco histórico da recém-instalada República brasileira, nos anos de 1896 e 97. Guerra prolongada e cruenta. Afinal, depois da Quarta Expedição, a cidadela de Canudos foi destruída com o mesmo furor com que os franceses foram levados a destruir Vandéia, consagrando-lhe uma epopéia. A saga de Antônio Conselheiro e do povo de Canudos foi a nossa Vandéia, comparou Euclides da Cunha. O Brasil todo foi mobilizado para destruir Canudos, após sucessivas derrotas do exército republicano. Do Amazonas e do Pará também seguiram combatentes. E ficou na memória do povo da região, não apenas nos anais da História. Ficou na história urbana de Belém, denominando um bairro, onde, primitivamente, os habitantes, na maioria nordestinos, alagoanos, cearenses, pernambucanos, moravam em casas rústicas que lembravam as habitações da heróica Canudos.Enquanto Euclides da Cunha publicava como correspondente do jornal O Estado de São Paulo, no correr dos acontecimentos, capítulos da história da Guerra de Canudos, refundidos e publicados em 1902 no seu extraordinário Os Sertões, um modesto oficial das tropas paraenses, o major A. Constantino Nery, escrevia seu diário de campanha, que publicou tão logo chegou ao Pará, em 1898, na tipografia de Pinto Bar-bosa, A Quarta Expedição contra Canudos, contendo algumas excelentes litogravuras. Os expedicionários paraenses foram recrutados para a quarta expedição enviada para Canudos em 1897, sob o
comando do general Artur Oscar. E foi a que destruiu o arraial de Antônio Conselheiro. Há outra referência bibliográfica paraense conhecida apenas pelos que lidam com a cultura popular, a literatura de cordel, e que é, no gênero, um dos folhetos mais admiráveis, de Arinos de Belém – História de Antônio Conselheiro: Campanha de Canudos – Narração Com-pleta, 36 p., edição da Guajarina, c. 1938. O poeta paraense inspirou-se provavelmente na leitura do diário de cam-panha do major Constantino Nery. No Nordeste também foram publicados versos popula-res. A Guerra de Canudos é o título de folheto anônimo, atribuído pelo pesquisador José Calasans ao poeta popular João Melchíades, que participou da Campanha de Canudos como sargento do Exército (Revista Brasileira de Folclore,ano 6, n.º 14, 1966). A poesia de cordel constitui-se portanto uma das expressões mais vigorosas da cultura popular. Contribui para informar e formar opiniões. O próprio Euclides da Cunha recolheu documentos coetâneos, como o ABC das Incredulidades e outros versos que louvavam a figura de Antônio Conselheiro. Resta então uma memória que circula apenas nos meios populares e é expressão do “folclore das lutas populares”. Como toda guerra é feita também por recrutas sem nome e sem expressão histórica, dessa guerra saíram inúmeros heróis anônimos, mutilados e desmemoriados, fantasmas que perambularam pelas ruas de muitas cidades e foram conhecidos da geração mais próxima dos acontecimentos. Um desmemoriado de Canudos tornou-se herói no Pará. É o personagem principal desta obra do jovem escritor goiano Marcos Quinan. A figura-personagem, Sabá do Talho, ou Sebastião Jerônimo Domêncio, é caboclo do Muaná. Marcos Quinan o restituirá ao sertão amazônico, o Sertão d’Água. O escritor não reconstrói o passado perdido do herói, tampouco a história dos recrutas do Pará nas tropas enviadas a Canudos, mas o colocará no seu ambiente natural, vasto painel do imaginário amazônico, transformado num fantasma que vaga de bubuia e chega ao banzeiro do Ver-o-Peso na véspera do Círio... Um Viva ao Bom Jesus! Viva Antônio Conselheiro! religa a estória do imaginário amazônico ao agreste sertão nordestino. Sertão obsessivo do escritor, que antes nos deu o Sertão do São Marcos (2000) das veredas goianas, remansos de rios, gemidos de carros de bois; agora neste Sertão d’Água (2001) ele narra uma aventura em prosa e em poesia, com-plemento de vasta produção. Poeta e militante da música popular, tem parte da obra reunida no CD Canção dos Povos da Noite (1998). Na canção e na ficção, Marcos Quinan voltou-se para o sertão amazônico, do extrativismo, das lendas e das encantarias.
Vicente Salles Vicente Salles Julho de 2001
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Prefácio
Sabá do Talho
Merina
Bité
Guajará do Xapuri
Maria Isabel
O Enterro
Porto do Sal
Ver-o-Peso
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A Província do Pará
Ilha de Cotijuba
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Na Intendência
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Teatro Ideal
O Teatro Ideal Apresenta: Júlio Villar
no Monólogo “O Enterrado Vivo”
No Arraial de Nazaré
Terraço do Grande Hotel
Vila do Pinheiro
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Na Intendência
Terraço do Grande Hotel
Folha do Norte
A Província do Pará
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Pensão da Florete
No sarau na casa do poeta Camargo Neto
A Procissão da Transladação
Zé do Tucano
13 de Outubro

EditoraProjecto Editorial
AutorMarcos Quinan
FormatoPDF
LeitorDrumlin Security
ImpressãoNão permitida
SeleçãoNão permitida
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