A experiência da fama

Fama é uma categoria híbrida e capciosa, que percorre variados campos discursivos e resiste a descrições unívocas. Nas sociedades industriais contemporâneas, não é preciso explicar a ninguém o que é fama, mas a palavra escapa sempre a definições conclusivas, do tipo: ser conhecido por minutos. Não se diria com propriedade, por exemplo, de um criminoso amplamente conhecido, que se trata de alguém famoso ou que exemplifica as qualidades da fama. Mesmo de um cientista de renome mundial, dir-se-ia tratar-se de um personagem ilustre, uma personalidade muito conhecida. Fama parece circunscrever a esfera em que celebridades são produzidas no interior do circuito específico da indústria cultural e da Comunicação de massa, com seus rankings, suas auras, suas estratégias simbólicas e suas construções, freqüentemente fugazes, das imagens personalizadas do sucesso. Daí talvez a reputação problemática da fama e sua duvidosa honorabilidade acadêmica: da mídia esperam-se fetiches, ideologia, o fáustico beijo da morte e as dissimulações do real, a beleza fake e a manipulação dos critérios da justiça. Daí o entusiasmo naïve dos consumidores, a paixão selvagem dos fãs. Os auditórios virtuais das novelas da TV nunca leram Adorno. Para muitos, não haverá nem sombra de pudor em imaginar-se galã global. Para muitos dos astros da mídia, que freqüentam o Olimpo da glória provisória e descartável, a imortalidade é agora e já, e eterna enquanto dura.